
Após passarem a pandemia do Covid-19 à bordo do seu pequeno barco a vela ‘Car 54’ ancorado no rio de Brisbane, Felipe Bouzon e Bruna Sanches resolveram adiantar o projeto da tão sonhado viagem a vela de volta ao Brasil. Serão mais de 13 mil milhas náuticas percorridas em dois anos e meio.
Felipe
Bouzon, 32 anos, e Bruna Sanches, 27, se conheceram na Austrália em uma escola
de mergulho em Gold Coast. Felipe é de São Paulo, formado em administação de
empresas e surfista. Bruna é do Rio de Janeiro, advogada marítima e nadadora. Eles resolveram vir para a Austrália por
razões distintas. Ela para aprender inglês e ele para morar no país que
considera como um dos melhores picos de surf no mundo.
Ao se conhecerem descobriram que compartilhavam de um mesmo sonho: ter um barco e morar a bordo. “Eu sempre tive esse sonho e me inspirei muito na minha madrinha que realizava viagens internacionais no veleiro dela. Para o Felipe a inspiração veio de assistir às aventuras da família Schürmann aos domingos na televisão,” conta Bruna. “Também nos inspiramos na viagem da australiana Jessica Watson, que deu a volta ao mundo quando tinha 14 anos, chegando de volta a Austrália aos 16 anos de idade,” emenda Felipe.
“Esse projeto de voltar ao Brasil de barco já era um sonho que estava distante mas que com a pandemia, resolvemos tornar realidade e estamos preparando nossa partida para abril de 2021,”diz Bruna.
Felipe e Bruna se mudaram para o barco ‘Car 54’ em julho de 2019. Eles estão vivendo no rio que corta a cidade de Brisbane (Brisbane River) na região de Bulimba, e estão na Austrália com o visto de estudante.
O casal resolveu manter o nome do barco dado
pelos antigos donos. “Car 54” era o título de uma comédia da tevê americana da
década de 50, onde a viatura 54 estava sempre perdida pelas ruas da cidade com
a central da polícia chamando pelo rádio o tempo todo “Car 54 where are you?”.
O barco de Bruna e Felipe, comprado em
Mackay, cidade ao norte de Brisbane, tem 33 pés. A embarcação possui uma cabine
na parte traseira onde está localizado o quarto, com cama e armário. Um
corredor na lateral do barco conecta a sala, cozinha e o banheiro. Segundo
Bruna, o barco é planejado para ser compacto e funcional.
O casal acredita que o Car 54 tem que ser aprimorado e preparado para a
viagem, questionados se o pequeno barco aguenta a travessia, Bruna responde com
o característico espírito aventureiro “assim como qualquer outro barco que vai
ser colocado para fazer uma viagem internacional, só tem uma forma de sabermos
se ele aguenta: fazendo!”
Entre os principais desafios de passarem dois
anos no barco estão a solidão, o cansaço e tomar decisões com cansaço, pois
você sempre tem que ficar em alerta ao movimento do barco em mar aberto. “Vamos
ter que revezar quando formos dormir, economizar água doce nas travessias de
percursos maiores onde não temos paradas e, por fim, o desafio é o
‘desconhecido’ em geral, no sentido de não sabermos 100% o que te aguarda na
aventura, tanto em relação ao mar, quanto a lugares, pessoas e situações.”
O casal também se colocou um desafio, usar o motor e o combustível o
menos possível. “É comum entre velejadores e motivo de orgilho, de, ao viajar a
vela, não usar o motor,“ diz Bruna.
O plano é partir de Brisbane em abril de
2021. O Car 54 então segue para Cairns no norte da Austrália, de lá para
Darwin, de Darwin para a Indonésia. “Na Indonésia temos que ficar pelo menos 9
meses devidos às condições climáticas, e esperar pelo que chamamos de ‘janelas
climáticas’ para que tenhamos as melhores condições para viajar. Da Indonésia
para Christmas Island, de lá para Madagáscar, no Oceano Índico, depois o sul da
África, e dali para Savador, no Brasil, terminando a viagem no Rio de Janeiro,”
explica Bruna.
Bruna e Felipe prevêem gastos da ordem de
AU$100 mil, incluindo o valor que pagaram pelo Car 54. Os recursos financeiros
serão gerados por trabalhos esporádicos que os dois conseguirem fazer durante
no ano (eles já fazem trabalhos freelancers nas áreas de hotelaria e atividades
recreativas ao ar livre). Bruna e Felipe também contam com o apoio de
seguidores do seu canal no youtube e no instagram/facebook chamados “No
experience on board” e em breve vão lançar uma campanha de crowdfunding.
Fonte: SBS